Antes da chegada dos portugueses, o Brasil era habitado por populações indígenas que compartilhavam semelhanças culturais e linguísticas, formando uma sociedade homogênea. Esses povos estavam espalhados ao longo da costa brasileira e na região da bacia dos Rios Paraná-Paraguai. Existiam dois grandes blocos populacionais: os tupis-guaranis e os tapuias.
Os tupis-guaranis ocupavam a maior parte da costa brasileira, desde o Ceará até a Lagoa dos Patos, enquanto os guaranis estavam localizados na bacia Paraná-Paraguai e no trecho do litoral entre Cananéia e o extremo sul do futuro Brasil. Os tapuias eram grupos que falavam outras línguas e habitavam áreas específicas ao longo do litoral.
Os Tupis-Guaranis e os Tapuias
Os tupis-guaranis, também conhecidos como tupinambás, estavam estabelecidos em toda a faixa litorânea do Norte até Cananéia, no sul do atual Estado de São Paulo. Os guaranis ocupavam a bacia Paraná-Paraguai e o trecho do litoral entre Cananéia e o extremo sul.
No entanto, embora geograficamente distintos, esses grupos compartilhavam semelhanças culturais e linguísticas, sendo agrupados como tupi-guarani. Nas áreas costeiras, a presença dos tupis-guaranis era ocasionalmente interrompida por outros grupos indígenas, como os goitacases na foz do Rio Paraíba, os aimorés no sul da Bahia e norte do Espírito Santo, e os tremembés na região entre o Ceará e o Maranhão. Esses grupos eram denominados tapuias pelos tupis-guaranis.
Classificação, Sociedade e Costumes Indígenas
A classificação dos grupos indígenas descrita atualmente resulta de estudos recentes dos antropólogos, com base em afinidades culturais e linguísticas. Os portugueses, por sua vez, identificaram de forma imprecisa várias “nações” indígenas, como os carijós, os tupiniquins e os tamoios.
A compreensão da sociedade e dos costumes indígenas é difícil, devido às diferenças culturais e aos preconceitos existentes. Os relatos escritos por cronistas, viajantes e padres, especialmente os jesuítas, apresentam diferentes visões dos indígenas, muitas vezes categorizando-os como bons ou maus com base em sua resistência aos portugueses.
A sociedade indígena era bastante diferente da sociedade europeia. Os grupos tupis praticavam caça, pesca, coleta de frutas e agricultura. No entanto, eles não tinham uma preocupação intuitiva em preservar o equilíbrio ecológico das áreas ocupadas.
Quando os recursos se esgotavam, migravam temporária ou permanentemente para outras áreas. Apesar disso, suas atividades e tecnologia rudimentar não causavam os efeitos devastadores da poluição e do desmatamento observados nas atividades dos colonizadores brancos.
Agricultura e Contatos entre Aldeias
Os grupos tupis faziam o manejo da terra para praticar a agricultura, uma técnica que seria posteriormente adotada pelos colonizadores. Cultivavam feijão, milho, abóbora e principalmente mandioca, que se tornou um alimento básico na Colônia.
A economia era baseada na subsistência e no consumo próprio, havendo poucas trocas de alimentos entre as aldeias. No entanto, ocorriam contatos entre as aldeias para a troca de mulheres e bens de luxo, como penas de tucano e pedras para fazer adornos. Esses contatos também resultavam em alianças entre grupos de aldeias e a ocorrência de guerras e captura de inimigos.
O Impacto da Chegada dos Portugueses
A chegada dos portugueses representou uma era de grandes catástrofes para os povos indígenas. Os europeus, com suas enormes embarcações, eram associados pelos tupis aos grandes xamãs (pajés) que andavam pela terra, curando e profetizando.
Os portugueses despertavam sentimentos ambivalentes, sendo ao mesmo tempo objeto de respeito, temor e ódio, visto como indivíduos dotados de habilidades especiais. Embora não houvesse uma nação indígena unificada, os portugueses conseguiram encontrar aliados entre os próprios indígenas na luta contra grupos que resistiam à colonização.
No entanto, os indígenas também resistiram fortemente aos colonizadores, principalmente quando se tratava de escravizá-los.
O Destino da População Ameríndia
Os indígenas que se submeteram ou foram subjugados pelos portugueses sofreram todo o tipo de violência cultural, como epidemias e muitos foram levados a morte. O contato com os europeus resultou na formação de uma população mestiça, cuja presença continua a ser sentida na sociedade brasileira atual. Alguns grupos indígenas optaram pelo isolamento, deslocando-se para regiões cada vez mais pobres como forma de resistência.
Essa estratégia permitiu a preservação de parte de sua herança biológica, social e cultural, mas, no geral, a população ameríndia sofreu uma verdadeira catástrofe. Milhões de indígenas habitavam o Brasil na época da conquista, e hoje existem apenas cerca de 250 mil.
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Referência:
BUENO, Eduardo (2016). Capitães do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores.