contos de todos os cantos

Loki, o Astuto Deus da Mitologia Nórdica

Conforme narrado na mitologia nórdica, Loki residiu em Asgard, coexistindo com Odin, o soberano dos deuses Aesir, e Thor, o senhor do trovão. Contudo, ele não pertencia à casta dos deuses Aesir; em vez disso, ele era um gigante.

Distinções entre deuses e gigantes na mitologia nórdica nem sempre eram claras. Os gigantes nórdicos não eram necessariamente gigantes em termos de estatura física, mas compartilhavam poderes que se assemelhavam aos dos deuses Aesir, apesar de abraçarem o caos ao invés da ordem.

Essa dualidade não tornava Loki tão discrepante em relação aos deuses Aesir, uma vez que muitos desses deuses tinham ascendência com raízes gigantes. Um exemplo disso é Thor, filho de Odin com Jord, a gigante personificando a terra.

 

Origens e Características

Um contraste notável entre Loki e os deuses Aesir é sua ausência de um domínio simbólico, como a guerra ou a fertilidade. Embora conhecido como um ardiloso trapaceiro, suas travessuras frequentemente visavam os deuses Aesir e não os seres humanos.

No antigo nórdico, a palavra ‘loki’ se referia a um nó ou emaranhado, insinuando que ele poderia ter sido ligado a alguns infortúnios humanos, possivelmente desempenhando o papel de uma divindade travessa. Entretanto, poucas evidências sustentam tal alegação.

A serpente era o símbolo associado a Loki; frequentemente, ele era representado por duas serpentes entrelaçadas, formando uma figura em S e mordendo uma à outra.

Quando se trata de seus “poderes”, a transformação era a habilidade predominante do deus. Ele empregava essa aptidão para escapar de situações adversas ou para induzir outros a revelar segredos. Embora Loki tenha provocado inúmeras dificuldades para os deuses nórdicos, ele era tolerado em Asgard e quase sempre absolvido por suas ações.

Esse perdão pode ser atribuído a um antigo pacto entre Odin e Loki. Em um conto, durante um banquete em que o deus insulta todos os deuses e se vê prestes a ser banido, ele recorda a Odin que ambos haviam misturado seus sangues e concordado em sempre compartilhar uma bebida.

 

A Linhagem de Loki

Conforme já mencionado, Loki era descendente de gigantes, sendo filho de Farbauti e Laufey, ambos gigantes. Porém, ele também desempenhou o papel de progenitor para diversas figuras fundamentais na mitologia nórdica.

Com a gigante Angrboda, Loki concebeu três filhos. Os deuses Aesir temiam o potencial caótico que essas crianças poderiam trazer, então cada uma delas foi posicionada de modo a causar o mínimo de estrago possível.

A primeira delas, a giganta Hel, recebeu o domínio sobre o submundo de Helheim, onde as almas que não pereceram em batalha eram acolhidas após a morte. O segundo, Jormungandr, assumiu a forma de uma serpente poderosa, sendo lançado pelos Aesir nas águas ao redor de Midgard, o reino dos humanos.

Lá, ele cresceu a ponto de ser capaz de circundar todo o mundo. O terceiro filho, Fenrir, era um lobo de grande poder. Ele foi acorrentado em Asgard usando uma fita mágica forjada pelos anões.

Cada um desses filhos de Loki e Angrboda tem sua participação prevista no Ragnarok, o evento apocalíptico da mitologia nórdica. Fenrir está destinado a matar Odin, enquanto Thor e Jormungandr se eliminarão mutuamente na batalha final. Assim, eles se tornam representações supremas de caos e destruição nesse contexto mitológico.

Além disso, Loki teve uma companheira, Sigyn, possivelmente pertencente à linhagem dos deuses Aesir. Dessa união, nasceu um filho chamado Nari. Ademais, ele também assumiu o papel de mãe de Sleipnir, o corcel de oito patas de Odin.

Isso foi resultado da habilidade de metamorfose de Loki. Segundo uma antiga narrativa nórdica, no início dos tempos, um construtor anônimo se ofereceu para erguer fortificações em volta de Asgard em troca da deusa Freya (reconhecida por sua beleza e sedução), do sol e da lua.

Os deuses consentiram sob a condição de que ele concluísse a tarefa em uma única estação, sem auxílio. O construtor concordou, mas com a ajuda do garanhão Svadilfari. Loki persuadiu os deuses a aceitarem essa barganha.

O garanhão acelerou a construção extraordinariamente, e próximo ao término do prazo, parecia que o trabalho seria concluído a tempo. Os deuses acusaram Loki por tê-los colocado nessa complicada situação de terem que cumprir o acordo, exigindo que ele garantisse a interrupção do progresso do construtor.

Loki, então, transformou-se em uma égua deslumbrante, efetivamente distraindo o garanhão e atrasando o andamento da obra. Contudo, essa artimanha resultou na gravidez do deus.

 

Loki, Balder e o Crepúsculo dos Deuses

Loki desempenha um papel de considerável importância no Ragnarok, a profetizada conclusão dos tempos na mitologia nórdica. No entanto, sua influência já é sentida muito antes do início desse apocalipse, através da tragédia que culminou na morte de Balder.

Após urdir um plano para assassinar Balder, Loki acabou por ser banido de Asgard pelos deuses Aesir. Eles o acorrentaram a duas rochas, com uma serpente venenosa suspensa acima de sua cabeça, gotejando veneno doloroso em seu rosto.

Loki e Sigyn (1863) de Mårten Eskil Winge. (Domínio Público)

Assim, ele permaneceu aprisionado até a chegada do próprio Ragnarok, quando Loki se liberta das correntes e se une à insurgência liderada pelos gigantes contra os deuses Aesir. Durante o clímax dessa batalha épica, é profetizado que Loki enfrentará Heimdall em um confronto direto e que ambos encontram a morte um pelas mãos do outro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *