O deus Rod, também conhecido como Sud (que significa “o juiz” em tradução livre), ocupa uma posição de destaque na mitologia eslava. Reconhecido como o deus da família, da chuva, da fertilidade, do destino, do parentesco e dos ancestrais, Rod é reverenciado como uma divindade suprema.
Sua representação geralmente o retrata como um homem vestido com um cinto de linho, segurando símbolos como um peixe, uma roda e flores. Contudo, em diversas fontes, Rod é associado às Rozhanitsy, as deusas do destino e do parto. Este artigo oferece uma exploração mais profunda sobre Rod e as diversas interpretações que envolvem esta importante divindade eslava.
Deus Eslavo
A religião pré-cristã dos eslavos é uma área onde a evidência histórica é escassa, e não encontramos um registro substancial dos seus rituais e crenças. A maior parte do que temos sobre o paganismo eslavo foi documentada por missionários cristãos que se opunham às práticas religiosas dos eslavos, buscando a conversão das tribos eslavas.
De acordo com alguns estudiosos e folcloristas, a figura de Rod era vista como um deus supremo e primordial, que governava sobre todas as outras divindades e era o criador máximo de toda a linhagem divina. Rod, o deus eslavo, era caracterizado como a divindade detentora do poder supremo relacionado ao nascimento, à fertilidade e à reprodução.
Etimologia
A raiz da palavra “Rod” carrega consigo significados essenciais que remetem ao “nascimento” ou “origem”, mas também se estendem a “parentesco”, “tribo” e “destino”. Entre os antigos eslavos do sul, ele era conhecido como “Sud” (o Juiz), sendo o árbitro supremo que poderia influenciar os destinos das pessoas.
Outro nome atribuído a Rod era “Praboh”, uma designação que se origina da tradição eslovaca e que significa “pré-deus”, “primeiro deus” ou “deus primordial”. Apesar de sua predominância nos tempos pré-cristãos, o papel desse deus supremo gradativamente se desvaneceu ao longo do tempo, à medida que o culto a ele perdeu relevância.
Nos séculos IX e X, deuses como Perun e Svarog assumiram o destaque, levando ao gradual desaparecimento da adoração a Rod. Portanto, não encontramos referências a Rod nas descobertas relacionadas ao panteão de Vladimir, o Grande.
Acredita-se que o nome “Rod” seja respaldado por fontes slavas antigas do Oriente e pela Igreja Antiga dos eslavos, que abordam a religião e a mitologia eslavas. Sua origem está associada à palavra proto-eslava “rodъ”, que abrange o conceito de “família” ou “clã”, bem como se estende a significados como “colheita” e “rendimento”. Originalmente, “rodъ” tem raízes na palavra proto-indo-europeia “* wréh₂ds”.
A principal fonte que faz referência a Rod é o documento do século 11 intitulado “A Palavra do Teólogo de São Gregório sobre como os pagãos reverenciavam ídolos”. No século XVI, na Rússia, o culto ao deus eslavo Rod ainda persistia, um fato que foi corroborado por meio de penitências concedidas por sacerdotes ortodoxos, como relatado por São Sabbas de Storozhi, um monge e santo ortodoxo.
As Divindades e o Culto das Rozhanitsy
Rod frequentemente é associado ao culto das Rozhanitsy, deusas que protegiam a “vara”, ou seja, a família ou o clã. Essas entidades femininas eram representações dos espíritos dos antigos ancestrais, algumas vezes vistas como uma única deusa, mas principalmente retratadas como múltiplas deusas, de maneira semelhante às Moirae gregas. Elas também eram representadas em pares, sendo consideradas mãe e filha, e ocasionalmente mencionadas como companheiras de Rod.
O culto às Rozhanitsy era celebrado por meio de rituais especiais que comemoravam o nascimento de recém-nascidos, bem como cerimônias realizadas durante o outono e a primavera. Quando uma criança nascia, três mulheres, simbolizando as Rozhanitsy, bebiam de uma trompa e faziam previsões sobre o futuro e o destino da criança.
Perto do equinócio vernal, ocorria uma celebração conhecida como “O Babii Prazdnik” ou “Radunitsa” em honra das três sábias senhoras. Durante essa festa, as pessoas preparavam banquetes e as mulheres decoravam ovos, que eram levados ao cemitério em respeito e lembrança aos antepassados da família. Os alimentos eram deixados nos túmulos como um símbolo de respeito, memória e renovação.
Essas práticas persistiram durante o período medieval e pré-cristão, mesmo que o culto pagão tenha gradualmente declinado sob a influência do cristianismo. A adoração às Rozhanitsy continuou, com altares sendo erguidos nas casas e os banhos sendo considerados locais sagrados, simbolizando renascimento e regeneração.
O Culto de Rod
Historiadores e etnólogos relatam que o festival dedicado a Rod era celebrado no final de dezembro, envolvendo oferendas de alimentos não sangrentos, como mel, pão, queijo e sêmola. O chefe de família lançava uma colher para o alto antes que todos compartilhassem o cereal. Posteriormente, um banquete era servido em uma mesa de formato trapezoidal. Ao final da celebração, a família fazia preces a Rod e às Rozhanitsy, pedindo que “todas as coisas boas florescessem”. Mesmo após o processo de cristianização, as festividades que homenageavam Rod continuaram na Rússia de Kiev, conforme documentado na obra histórica “Mundo de Chrystolubiec”:
“…e misturamos algumas orações puras com as oferendas malditas aos ídolos, pois eles prepararam uma mesa proibida ao lado da mesa da kutia e do banquete legal destinado a Rod e às Rozhanitsy, provocando a ira de Deus.”
Rod e o Nascimento de um Novo Universo
No princípio, o cenário era dominado pela escuridão e pelo caos. A escuridão envolvia um ovo de ouro, que simbolizava o potencial para a nova vida. Dentro desse ovo, encontrava-se Rod, o ancestral de todos os deuses eslavos e de toda a criação, em um sono profundo. Flutuando no caos primordial, Rod repousava, aguardando o momento em que se tornaria forte o suficiente para criar o mundo que conhecemos.
Contudo, as forças do desequilíbrio perturbaram o sono harmonioso de Rod. Ele começou a sentir calor e, subitamente, um frio congelante. Até então, a consciência era a única existência, mas essa consciência era incompleta, desconhecendo a si mesma. Para se compreender plenamente, precisaria se dividir em opostos duais.
Diante da monumental tarefa de auxiliar a consciência a se conhecer, Rod tomou a decisão de trazer o mundo para a existência. Ele criou um sistema de opostos, contudo, antes disso, gerou a maior força que já existiu: o amor, como meio de unir essas forças opostas. Somente por meio do amor a harmonia poderia ser restaurada ao mundo.
Dessa maneira, Rod deu vida ao amor, personificado por Lada, a deusa do amor e a mãe primordial de todas as criaturas. Rod e Lada não eram um casal em si, mas co-criadores nesse grande processo de criação.
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