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Lobisomem, O Ser mais Temido do Folclore Brasileiro

As lendas do lobisomem possuem uma antiguidade marcante e estão enraizadas em diversas culturas ao redor do globo. Registros dessas criaturas podem ser encontrados desde os tempos antigos no Egito, mas é na mitologia grega que a narrativa se torna proeminente.

 

Relatos Antigos

Um dos relatos mais famosos encontra-se no livro “Metamorfoses” do poeta romano Ovídio, que detalha a maldição que transformou o rei Licaão e seus mais de 50 filhos em lobos. Esse relato se espalhou pelo mundo e deu impulso à lenda de forma global.

As histórias do lobisomem retratam um indivíduo, geralmente do sexo masculino, que sob certas circunstâncias se metamorfoseia em uma criatura híbrida, parte humana e parte lobo. Em muitas culturas, essa criatura é retratada como sanguinária e desprovida de racionalidade.

A presença do lobisomem também faz parte do folclore brasileiro, mas ao longo dos anos surgiram relatos de pessoas que afirmam ter avistado essa figura. Essas aparições são mais frequentes em áreas rurais, e as razões por trás da transformação variam de região para região. Alguns até alegam que a maldição é passada de geração para geração.

 

Origem da Lenda

O termo “lobisomem,” ou tecnicamente “licantropo,” deriva do nome do rei mítico Licaão. De acordo com “Metamorfoses” de Ovídio, Licaão, rei da Arcádia, serviu a carne de um cidadão chamado Árcade a Zeus. Em castigo, Licaão e seus filhos foram transformados em lobos.

Um dos personagens mais notáveis associados a essa narrativa foi o pugilista Arcádio Damarco Parrásio, um herói olímpico que se transformou em lobo nove anos após um sacrifício a Zeus Liceu, como mencionado por Pausânias, um geógrafo da época.

De acordo com lendas contemporâneas, “para derrotar um lobisomem, é necessário atacá-lo com objetos feitos de prata.” Esta figura lendária tem suas raízes nas tradições europeias, onde um indivíduo se transforma em lobo ou em algo semelhante durante as noites de lua cheia, retornando à forma humana com o nascer do sol.

Essas lendas têm origem na mitologia grega, tendo perdurado devido aos contos de deuses e heróis contados repetidamente por antigos escritores em poesia, prosa e peças de teatro.

Licaão, filho de Pelasgo, o primeiro rei da Arcádia, desempenha um papel fundamental na origem da lenda. Diferentes versões sobre sua origem étnica e histórica são mencionadas em narrativas antigas. Pelasgo, conhecido por seus feitos e introdução de hábitos alimentares, foi sucedido por seu filho Licaão. Licaão, inicialmente autodidata, estabeleceu a cidade de Licosura e construiu um altar para Zeus.

Entretanto, seu fanatismo religioso o levou a sacrifícios humanos, o que resultou em sua transformação em lobo por Zeus. Sob as noites de lua cheia, Licaão assumiria a aparência bestial, resultado de suas práticas cruéis, testemunhadas por Zeus. A ira de Zeus se manifestou ao incendiar o palácio do rei Licaão.

Zeus transformando Lycaon em lobo, gravura de Hendrik Goltzius. (Domínio Público)

A Lenda do Lobisomem no Folclore Brasileiro

Ao longo dos tempos, diversas nações do mundo compartilharam narrativas sobre a metamorfose de seres humanos em lobos, gerando um caldeirão de lendas e culturas. Dentro desse contexto, no Brasil, emergem várias versões acerca dessas transformações, todas cercadas por especulações sobre suas causas.

No país, uma multiplicidade de interpretações floresce. Entre as crenças populares, algumas sustentam que a mutação se perpetua de pai para filho, atravessando as gerações. Outras vozes asseguram que a transformação é transmitida mediante a mordida ou arranhão de um lobisomem.

A mística cresce ainda mais, insinuando que o sétimo filho do mesmo gênero é fadado a se tornar um lobisomem, ou, em outras narrativas, que o próximo descendente de uma família de sete filhas mulheres está destinado à mutação.

Nesse folclore, a mutação desperta no limiar da puberdade, por volta dos 13 anos. Algumas versões alegam que essa transformação ocorre exclusivamente em encruzilhadas ou cemitérios. A maioria das histórias, por sua vez, fixa a metamorfose nas noites de lua cheia, mas em variações mais raras, ela é confinada às sextas-feiras.

Em diferentes regiões, existe a crença de que o lobisomem emerge somente nas luas cheias às terças-feiras, enquanto em outras localidades, sua aparição pode ocorrer em ambos os dias.

A dieta do lobisomem permanece constante nas narrativas, transcendendo fronteiras. Segundo os mitos, ele se nutre de sangue, uma característica que intensifica o pavor que evoca. Para aniquilar um lobisomem, requer-se o uso de objetos de prata, como muitas histórias relatam. Algumas variações incluem o fogo como um meio para exterminar a criatura.

Em certas tradições, alega-se que o lobisomem se alimenta de recém-nascidos, lançando raízes para a prática comum de batizar crianças precocemente. A descrição de sua irracionalidade ressalta um aspecto perigoso, onde se acredita que, sob a forma de monstro, ele não reconhece sequer sua própria família.

Entre as diferentes histórias, sobressai a ideia de que alguém pode se transformar em lobisomem ao deitar-se no mesmo local onde um jumento repousou, proferindo palavras do Livro de São Cipriano ou recitando o Credo três vezes. Algumas variações sugerem que esse ato deva ser realizado sem qualquer vestimenta.

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