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Guan Yin, a Deusa da Compaixão (Mitologia Chinesa)

Guan Yin mitologia chinesa

Na mitologia chinesa, Guan Yin é reverenciada como a divindade da compaixão, personificando a misericórdia em sua forma física. Ela tudo vê e ouve, sendo invocada por seus seguidores em momentos de incerteza, desespero e apreensão.

Guan Yin tem sua origem na figura hindu conhecida como Avalokiteśvara, cujo mito se difundiu pela China durante a disseminação do budismo, entrelaçando-se com as tradições locais em um processo denominado sincretismo. Que deu origem à compreensão moderna de Guan Yin.

Embora ela possa assumir tanto aspecto masculino quanto feminino, na tradição chinesa, é mais frequentemente retratada como uma figura feminina.

 

Origens

Juntamente com a introdução do budismo, a devoção a Guan Yin chegou à China já no século I d.C. e posteriormente foi adotada pelo Japão através da Coreia, após a introdução inicial do budismo no século VII.

As representações do Bodhisattva na China até a Dinastia Song (960-1279 d.C., incluindo a Dinastia Song do Norte e do Sul) costumavam ser de natureza masculina. Geralmente, é aceito que Guan Yin se originou da figura sânscrita Avalokitesvara, que é sua forma masculina, uma vez que todas as representações desse Bodhisattva eram masculinas.

Imagens posteriores passaram a incorporar atributos tanto femininos quanto masculinos, pois, segundo o Sutra de Lótus, um Bodhisattva tem o poder mágico de alterar sua forma para aliviar o sofrimento.

Assim, Guan Yin transcende as limitações de gênero, de acordo com o Mahayana, o qual o budismo chinês faz parte. Como descrito no Sutra de Lótus, o Bodhisattva Kuan Shih Yin tem a capacidade de assumir diversas formas para guiar os seres em direção à salvação.

A representação de Guan Yin na China acabou por adquirir uma interpretação exclusivamente feminina por volta do século XII, durante a Dinastia Ming (1368-1644 d.C.). A lenda da santa budista Miao Shan, que viveu por volta de 700 a.C., é frequentemente associada a Guan Yin, fortalecendo a imagem do Bodhisattva como uma figura feminina.

Nos tempos modernos, Guan Yin é frequentemente representada como uma bela mulher vestida de branco, uma representação que deriva de sua forma anterior conhecida como Pandaravasini. Em sânscrito, ela é chamada de Padma pani, que significa “Nascida do Lótus”, em referência ao lótus, símbolo de pureza, paz e harmonia.

Outra interpretação sugere que ela pode ter se originado do Taoísta Imortal Ci Hang Zhen Ren, uma figura taoísta perfeita conhecida por sua compaixão e dedicação em ajudar os necessitados. Guan Yin é reverenciada tanto por taoístas quanto por budistas no Ocidente, sendo comumente conhecida como a Deusa da Misericórdia.

 

Simbolismo e Características

A iconografia de Guan Yin geralmente a representa com uma túnica branca fluindo, simbolizando a pureza, e frequentemente ostenta colares que evocam elementos da realeza indiana e chinesa. Em sua mão direita, segura uma jarra de água, que é comparável ao Vaso Sagrado e representa água pura, o néctar divino da vida, compaixão e sabedoria.

Na mão esquerda, segura um ramo de salgueiro, usado para espalhar o néctar divino sobre os devotos, abençoando-os com paz física e espiritual. O salgueiro também simboliza a capacidade de flexibilidade sem quebrar, sendo utilizado em rituais xamânicos e com propriedades medicinais.

Sua coroa muitas vezes incorpora a imagem do Buda Amitabha, sua mestra espiritual antes de se tornar um Bodhisattva. Em algumas representações, um pássaro, frequentemente uma pomba, alude à fecundidade e voa em direção a Guan Yin.

Além disso, um colar ou rosário está associado a suas preces a Buda por socorro, onde cada conta simboliza todos os seres vivos, e o ato de girar as contas representa Guan Yin guiando esses seres para fora do ciclo de sofrimento e renascimento, em direção ao nirvana, expressando assim a ideia da iluminação.

Guan Yin Budismo
Imagem de Guan Yin no Templo Budista de Nanshan em Sanya , na ilha chinesa de Hainan (Imagem: Wikimedia Commons CC BY-SA 3.0)

A História de Miao Shan e Sua Transformação em Guan Yin

Antes de se tornar a deusa da compaixão, Guan Yin era conhecida como Miao Shan, uma jovem filha do rei Zhuang de Chu e de sua esposa, Lady Yin. No entanto, desde tenra idade, Miao Shan demonstrava uma singularidade que a destacava das demais garotas. Assim que aprendeu a falar, começou a recitar sutras budistas.

Conforme Miao Shan cresceu, chegou o momento em que seu pai considerou casá-la com um poderoso senhor. No entanto, ela expressou seu desejo de se tornar uma freira budista e recusou o casamento. Ela concordaria apenas sob a condição de que isso ajudasse a resolver três grandes problemas: o sofrimento decorrente da velhice, da doença e da morte.

Incapaz de encontrar um pretendente que aceitasse essas condições, seu pai finalmente permitiu que ela se juntasse a um templo budista, embora tenha ordenado que os monges a sobrecarregassem com as tarefas mais árduas na esperança de desencorajá-la. Assim, Miao Shan trabalhou incansavelmente, dia e noite, sem descanso.

Para desagrado de seu pai, os jovens animais da floresta que cercava o templo começaram a ajudá-la nas tarefas, comovidos pela sua situação. Quando seu pai soube que Miao Shan estava recebendo ajuda, ficou enfurecido e ateou fogo ao templo.

Contudo, Miao Shan apagou as chamas com as próprias mãos. Diante disso, acreditando que sua filha estava possuída por um demônio, o rei a condenou à morte.

No dia da execução, Miao Shan se dirigiu humildemente ao local. No entanto, quando o carrasco abaixou o machado para cortar seu pescoço, o machado se despedaçou em mil pedaços. Sua espada também se quebrou, e as flechas de seu arco se desviaram de seu alvo.

Diante de tantos impedimentos, Miao Shan perdoou o carrasco, permitiu que ele a matasse e absorveu o carma de suas ações, livrando-o de pagar pelas consequências de sua morte na vida após a morte.

Ao chegar ao Inferno, a Terra ao seu redor se encheu de flores desabrochando. Comovida pela visão das almas sofredoras ao seu redor, Miao Shan chorou de tristeza. Ela liberou toda a energia cármica positiva que acumulara e permitiu que milhões de almas escapassem do Inferno. Yan Wang, temendo o colapso de seu reino, permitiu que ela retornasse à Terra como o ser iluminado, Guan Yin.

 

Conclusão

Em resumo, a figura mitológica de Guan Yin é uma representação poderosa da compaixão e da misericórdia na mitologia chinesa e budista. Sua história é marcada por uma evolução complexa, que transcendeu barreiras de gênero e se adaptou a diferentes tradições ao longo do tempo.

Guan Yin é um símbolo unificador de valores universais, como a compaixão e a bondade, que ressoam não apenas entre os budistas, mas também em pessoas de diversas origens e crenças. Sua iconografia é rica em simbolismo, destacando sua importância espiritual e sua capacidade de guiar os seres em direção à iluminação e à paz.

A compaixão, ao lado da bondade, é um dos valores que unem pessoas em todo o mundo, independentemente de nacionalidade, cor da pele, religião ou qualquer outra característica. Portanto, Guan Yin é um símbolo que une não apenas os budistas, mas também todos aqueles que seguem um caminho mental semelhante.

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