No coração da mitologia grega, encontramos Gaia, a primeira divindade e personificação da terra e da maternidade universal. Em parceria com seu filho Urano, que personificava os céus, Gaia exerceu seu poder na formação do universo. Sendo a progenitora de grande parte das divindades gregas, ela deu à luz os poderosos Titãs, os enigmáticos Ciclopes e os formidáveis Hecatonquiros.
Através dos férteis Titãs, cada qual com uma prole numerosa, Gaia tornou-se a avó de inúmeras figuras míticas, incluindo os renomados Olimpianos. Sua influência se estendeu por toda a mitologia grega, conectando o mundo natural e divino de maneira indissociável.
A Deusa Mãe
O título de “deusa mãe” é reservado para divindades de grande importância que personificam a generosidade da Terra, representam a origem da criação ou governam aspectos da fertilidade e maternidade.
Em diversas religiões antigas, encontramos uma figura que se encaixa nesse papel, como Cibele na Anatólia, Danu na antiga Irlanda, as sete Matrikas no hinduísmo, Pachamama entre os incas, Noz no antigo Egito e Yemoja nos cultos iorubás. Além disso, os antigos gregos reconheciam três outras deusas-mães além de Gaia: Leto, Hera e Rhea.
A representação mais comum de uma deusa mãe é a de uma figura feminina robusta, como evidenciado nas icônicas estátuas da Mulher de Willendorf e da Mulher Sentada de Çatalhöyük.
Ela também pode ser retratada como uma mulher grávida ou emergindo parcialmente da própria Terra, simbolizando sua ligação profunda com a fertilidade e a criação. Essas divindades desempenharam papéis essenciais nas mitologias antigas, conectando a humanidade à terra e à natureza de maneira sagrada.
O Mito do Nascimento e Ascensão de Gaia
Nos primórdios da criação, Gaia surgiu sem a necessidade de progenitores, uma existência que floresceu espontaneamente. Logo após seu surgimento, Gaia desempenhou um papel fundamental na formação do mundo ao criar seu complemento masculino, Urano, que a envolveu e colaborou para a totalidade da existência.
Foi Gaia que deu origem aos mares (personificado como Ponto), às majestosas montanhas (conhecidas como Ouréia) e aos primeiros seres que habitaram o mundo que ela moldou e personificou.
Com Urano, Gaia gerou uma prole diversificada, incluindo a primeira geração de Titãs. Contudo, Urano revelou-se cruel e ciumento, temendo que seus próprios filhos almejassem usurpar seu reinado nos céus. Assim, tão logo eles nasciam, Urano os relegava ao sombrio Tártaro, o submundo.
Angustiada por ver a vida de seus filhos desperdiçada dessa maneira, Gaia forjou uma foice de pedra cinzenta e orientou seus descendentes a confrontarem Urano e castrá-lo com essa lâmina. Os apelos de Gaia, como imaginados por Hesíodo, eram claros: “Meus filhos, nascidos de um pai pecaminoso, se me seguirem, puniremos o ultraje vil de vosso pai; pois ele concebeu primeiramente práticas vergonhosas.”
Dentre os Titãs, apenas Cronos acolheu a orientação de sua mãe. Empunhando a cruel lâmina curva, ele cortou os órgãos genitais de Urano e os lançou ao mar. Esse ato resultou no surgimento de várias entidades, incluindo gigantes, ninfas e a bela Afrodite.
À medida que o tempo passava, Cronos assumia o papel de tirano. Ele, assim como seu pai antes dele, ficou consumido pelo medo de uma revolta por parte dos filhos que gerou com sua irmã Rhea, temendo que eles o derrubassem do trono.
Para evitar esse destino, Cronos devorou seus cinco primeiros filhos assim que vieram ao mundo – Deméter, Hera, Héstia, Hades e Poseidon. No entanto, Rhea conseguiu ocultar o caçula, Zeus, em uma isolada caverna, onde foi criado com cuidado por sua avó, Gaia.
A deusa-mãe instruiu sabiamente o futuro soberano dos deuses, e ele, por fim, depôs seu pai e estabeleceu a ordem cósmica tal como os gregos a concebiam.
Culto e Devoção
Gaia, uma das proeminentes divindades ctônicas veneradas pelos gregos, mantinha estreita conexão com a terra, a agricultura e o submundo. Nos rituais dedicados a ela, um traço distintivo era a exigência de que os animais sacrificados fossem de pelagem escura.
Embora desempenhasse um papel fundamental na criação primordial do cosmos, Gaia não ocupava uma posição central nas práticas de adoração e culto da antiguidade. No entanto, diversos rituais estavam associados a essa deusa. Gaia era frequentemente invocada como guardiã dos juramentos, tanto na poesia quanto na vida cotidiana. Em Atenas, o mítico rei Erichthonius (ele próprio descendente de Gaia) estabeleceu que um pré-sacrifício fosse oferecido a Gaia Kourotrophos (“Gaia Nutridora dos Jovens”) antes de qualquer outro sacrifício. Quando a seca assolava, Gaia era evocada como Ge Karpophoros (“Terra Portadora de Frutos”).
Além disso, ela era associada a oráculos e profecias, uma vez que a inspiração profética emanava dos ventres da terra, uma manifestação de Gaia. O mais renomado dos oráculos gregos, o Oráculo de Apolo em Delfos, acreditava-se originalmente ser dedicado a Gaia.
Templos, santuários e altares em honra a Gaia eram disseminados por todo o mundo grego, sendo encontrados em locais como Atenas, Esparta, Olímpia, Tegea e Aegae. Em certas regiões, como a cidade de Patrae, na Grécia central, Gaia era cultuada ao lado de Deméter, a deusa da agricultura, outra representante da mãe terra.
Acredita-se que tenham existido inúmeras estátuas de culto dedicadas a Gaia, algumas datando de tempos remotos. Infelizmente, nenhuma delas sobreviveu ao tempo, e nossos conhecimentos sobre sua aparência são limitados.
Em Roma, Gaia era reverenciada sob o nome de Tellus. Um templo de Tellus foi erigido por volta de 304 a.C., próximo a uma importante estrada romana. O festival de Tellus, conhecido como Fordicidia ou Hordicídia, ocorria anualmente em abril e envolvia o sacrifício de gado como parte das celebrações.
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Referências:
Hamilton, Edith. Mythology. New York: Little, Brown and Company, 1942.
Morford, Mark P. O.; Lenardon, Robert J.; Sham, Michael. Classical Mythology. New York: Oxford University Press, 2019.
Smith, William. A Dictionary of Greek and Roman Mythology. London: John Murray, 1873.