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Pachamama, A Mãe Terra na Mitologia Inca

Pachamama, Deusa Inca

Pachamama, uma divindade ligada à fertilidade, tem suas raízes na cultura ancestral dos Incas, um grupo indígena que habitava as terras da Cordilheira dos Andes. Na língua Quechua, falada pelos indígenas, Pachamama (também conhecida como Mama Pacha) é traduzida como “Mãe Terra” ou “Mãe Cosmos”.

Em outras tradições culturais, ela é identificada como Gaia ou Mãe Terra. Seu papel central envolve o cuidado e a proteção dos seres que habitam seu seio, considerados seus filhos. Até os dias atuais, ela mantém uma relevância significativa na religião peruana.

A cosmovisão andina enfatiza a importância de viver em harmonia com a natureza e preservar seus recursos, evitando excessos. Acredita-se que o desrespeito a Pachamama pode desencadear consequências negativas, como terremotos.

 

Pachamama e Sua Relação com os Incas

Embora seja fato que o Sol fosse a divindade principal venerada pelos Incas, ao longo do tempo, outros deuses ganharam destaque, especialmente após a chegada dos espanhóis. Entre esses deuses, a Mãe Terra Andina ocupou um lugar significativo.

É fundamental lembrar que os Incas surgiram da união de diversas culturas pré-incas, assentamentos humanos e pequenas aldeias que ocupavam o vasto território conhecido como Tawantinsuyo, antes do século XIII. Cada uma dessas culturas e cidades possuía suas próprias divindades e métodos de adoração.

Assim, os Incas adotaram algumas dessas divindades, como o Sol (originado na cultura pré-Inca Tiahuanaco) e, o mais notável de todos, Viracocha, o Criador de Tudo (inicialmente adorado pela cultura Caral, e posteriormente pelos Chavin, Wari e Tiahuanaco, culturas pré-incas).

É intrigante o fato de os Incas terem relegado Viracocha e terem optado por adorar um deus visível como o Sol, que os aquecia e energizava durante o dia. Com a conquista de culturas vizinhas, os Incas absorveram influências e elementos religiosos que gradualmente se integraram à sua cultura. No entanto, a Mãe Terra Andina conseguiu resistir à obscuridade imposta por Viracocha e pelo Sol após a conquista espanhola.

Pachamama representava a alma feminina da natureza, sendo reverenciada pelo povo andino como a provedora de todos os aspectos essenciais, como vida, alimentos, animais, água, fenômenos atmosféricos e geológicos, bem como a fertilidade que sustentava a rica biodiversidade do Peru.

Vale ressaltar que a economia Inca tinha suas bases na agricultura, tornando evidente a importância da Mãe Terra em sua cultura. Ela era considerada como sendo fertilizada tanto pela chuva quanto pelo próprio Deus Sol, garantindo colheitas abundantes para seus filhos.

Pachamama
Juan de Santa Cruz Pachacuti Yamqui Salcamaygua: Cosmologia do Inca (1613) (Domínio Público)

Sobrevivendo à Imposição Espanhola

Com a chegada dos conquistadores espanhóis em 1532, a tentativa de erradicar a religião pagã Inca foi marcada por violência, punições e uma rápida imposição do catolicismo. Porém, essa imposição serviu como pretexto para desmantelar e saquear os tesouros incas, incluindo objetos de ouro e prata, folhas e barras dedicadas aos deuses andinos. A ganância dos europeus não conhecia limites, levando à destruição dos templos e palácios incas, que foram substituídos por igrejas católicas, mosteiros e conventos.

Essa imposição abrupta não se limitou apenas às estruturas físicas, mas também influenciou as expressões artísticas. Os primeiros mestres da arte na colônia eram frades, padres e monges das ordens religiosas que acompanharam os primeiros espanhóis em sua chegada a Cusco em 1533, incluindo jesuítas, franciscanos e dominicanos.

Eles ensinaram aos incas como retratar os recém-introduzidos deuses, santos e virgens católicos em pinturas que decorariam as novas igrejas. No entanto, a transformação da religião não ocorreu de imediato.

Os artistas incas, ao representar as virgens com formas de montanhas (que eram divindades Apus na religião inca) e os santos com pele morena (característica dos habitantes dos Andes), fundiram elementos católicos com a cultura andina. Essa fusão resultou na sobreposição iconográfica, característica central do estilo artístico conhecido como Escuela Cusqueña, que floresceu entre os séculos XVI e XVIII e é reconhecido mundialmente hoje em dia.

Nessa transformação, a Mãe Terra permaneceu como a divindade onipresente nos Andes peruanos, representada como montanhas nas virgens Maria (cujos vestidos lembravam as montanhas ou Apus) nas pinturas da Escuela Cusqueña. Assim, o símbolo da Mãe Terra Andina era uma colina ou montanha durante a época dos Incas, enquanto a forma da Virgem Maria na iconografia religiosa desde a chegada dos espanhóis.

Os rituais e oferendas a essa divindade continuaram a se desenvolver furtivamente ao longo do período colonial, muitas vezes ocorrendo em locais remotos e escondidos, escapando da influência espanhola e persistindo ao longo do tempo.

 

Culto e Reverência

O principal ato de devoção à Mãe Terra é o chamado “Challa”, que consiste em um pagamento ou tributo. Este ritual pode ser realizado na primeira sexta-feira de qualquer mês, embora o dia mais auspicioso seja o 1º de agosto, ou até mesmo ao longo de todo o mês. Além disso, ocasiões especiais também podem motivar a realização do “Challa” para solicitar bênçãos e boa fortuna da Pachamama.

Esse ritual envolve uma série de etapas cerimoniais, que começam com a preparação de uma refeição especial na noite anterior. No dia seguinte, essa comida é oferecida em um local rochoso especial conhecido como “furo de água” ou em uma vala de irrigação, onde ocorre a cerimônia central. Durante essa cerimônia, a comida previamente preparada é oferecida junto com bebidas, incluindo folhas de coca e cigarros.

É importante observar que atualmente, tanto famílias cristãs quanto seguidoras da Pachamama realizam o pagamento à Mãe Terra, resultando em diferentes variações nos tipos de oferendas e alimentos utilizados durante o ritual.

 

Concluindo

A deusa Pachamama desempenha um papel fundamental na cosmovisão dos povos andinos, representando a Mãe Terra e a natureza que nutre e protege seus filhos. Ao longo dos séculos, Pachamama sobreviveu a desafios significativos, desde a conquista espanhola até a influência do cristianismo, mantendo sua presença na vida e nas tradições dos povos andinos.

O ritual do “Challa” exemplifica a contínua reverência a essa divindade, uma prática que evoluiu ao longo do tempo, incorporando elementos culturais e religiosos diversos. A jornada de Pachamama é uma demonstração notável de resiliência espiritual e cultural, enriquecendo o tecido da história peruana e andina como um todo.

 

Confira o mito completo no vídeo:

 

 

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Referências:

Urton, G. (1990). At the Crossroads of the Earth and the Sky: An Andean Cosmology. University of Texas Press.

Silverblatt, I. (1990). Moon, Sun, and Witches: Gender Ideologies and Class in Inca and Colonial Peru. Princeton University Press.

Niles, S. A. (1999). The Shape of Inca History: Narrative and Architecture in an Andean Empire. University of Iowa Press.

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