Conhecendo a Figura Divina de Olorum e seu Papel como Ser Supremo nas Crenças e Tradições Mitológicas Africanas
Na tradição mitológica do povo Iorubá da África Ocidental, Olorum é a divindade suprema, detentora de grande sabedoria e poder. Esta figura onisciente desempenha um papel ativo tanto no mundo celeste quanto terreno, sendo o líder do panteão e sendo conhecido por vários títulos, como Olofin-Orun (Senhor do Céu), Oba-Orun (Rei do Céu) e Olodumare (Todo-Poderoso).
Olorum na Mitologia Iorubá
As origens do culto a Olorum são incertas, mas os historiadores acreditam que ele tenha surgido entre os povos Iorubá, que habitavam a região que hoje é a Nigéria. Essa região era rica em tradições religiosas, com uma variedade de deuses e ritos.
As religiões de matrizes africanas no Brasil, como o Candomblé e a Umbanda, possuem uma diversidade de tradições e crenças que foram trazidas pelos povos africanos durante a era da escravidão. Essas religiões incorporaram elementos tanto das religiões tradicionais africanas quanto do contexto sociocultural brasileiro.
De acordo com as crenças, a divindade está associado à criação e à harmonia cósmica. Ele é visto como um ser benevolente, que governa o destino e a ordem do mundo. Embora seja considerado distante e pouco acessível diretamente pelos praticantes, acredita-se que Olorum delegou poderes e responsabilidades às divindades intermediárias, conhecidas como orixás, que atuam como intermediários entre o ser humano e o divino.
A Religião Candomblé e a Adoração a Olorum
De acordo com a crença, a criação do mundo foi realizada por Olorum através de uma série de atos divinos. Primeiro, ele criou a terra e os mares, em seguida, fez nascer as plantas e os animais. Por fim, criou a humanidade e deu-lhe o livre-arbítrio.
Na religião candomblé, o deus é frequentemente identificado como o orixá supremo, mas sua figura é menos central do que na mitologia Iorubá. Em vez disso, a ênfase é colocada na relação entre Olorum e outros orixás, especialmente Oxalá.
No Candomblé, uma religião de origem africana, os cânticos e rituais são realizados em idiomas nativos, originários de cada etnia do continente. Por exemplo, no Candomblé de etnia Kétu (Nigéria), fala-se e canta-se em yorùbá. Na etnia Jeje (Benim, antigo Dahomé), utiliza-se o idioma ewe fon. Já na etnia banto (Angola ou Congo), que é a mais diversificada em termos de idiomas, o kimbundu é o mais falado e cantado.
Cantigas e Rituais em Louvor a Olorum
As cantigas no Candomblé são mensagens que estabelecem a conexão entre o homem e o Orixá. Uma das cantigas mais conhecidas e cantadas é “Oní Sáà wúre” (O Senhor do Tempo), da etnia Kétu. Ela exalta o poder supremo de Olódumare – Olórun (Deus) e é entoada como parte dos cânticos em louvor a Òsàlá (O Grande Orixá), enaltecendo suas virtudes como Pai e Senhor da Existência das Pessoas aqui na Terra (Àiyé).
Cantiga: Oní Sáà wúre
Oní Sáà wúre (Senhor do Tempo (Existência)
Sáà wúr àse (Rogamos bênçãos e axé)
Oní Sáà wúre o bé rí o mó (Senhor do Tempo assim novamente)
Oní Sáà wúre (Senhor do Tempo)
Sáà wúr àse Bàbá (Rogamos bênçãos ao Pai)
Oní Sáà wúre o bé rí o mó (Senhor do Tempo assim novamente).
Ese e Bàbá; Epà Bàbá!
Axé!
Resumindo
A influência de Olorum na cultura africana e afro-brasileira é evidente em muitas práticas religiosas e rituais. No candomblé, por exemplo, Olorum é muitas vezes invocado no início dos rituais, como um símbolo de proteção e orientação espiritual.
Embora não seja considerado um orixá, Olorum não tem descendência na Terra e, portanto, não se manifesta ou exige oferendas, comidas ou vestimentas especiais durante as cerimônias do Candomblé. Olorum está além dessas e de outras necessidades materiais, sendo o senhor de todas as coisas e o princípio criador.
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Referências:
Awolalu, J. Omosade. “Yoruba Beliefs and Sacrificial Rites.” Africa World Press, 1996.
Bastide, Roger. “The African Religions of Brazil.” Johns Hopkins University Press, 1978.
Verger, Pierre. “Os Orixás.” Editora Corrupio, 1981.
