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Mitologia Inca: Religião, Sociedade e Rituais

Mitologia Inca - Religião, Sociedade e Rituais na Antiga Civilização

Os deuses incas e suas características são identificados pela representação do ambiente natural e cósmico, que constituía o panteão religioso da antiga civilização inca, localizada na Cordilheira dos Andes, na América do Sul.

A sociedade inca era notavelmente devota, e a mitologia inca estava profundamente entrelaçada com a vida cotidiana. Cada ação dos incas carregava um significado religioso, destacando-se pela ênfase na descrição e adoração do mundo natural ao seu redor. Cada aspecto e elemento desse mundo eram concebidos como animados por poderosos espíritos e ancestrais, transcendendo o plano sagrado.

Os deuses incas, habitantes do céu e da terra, desempenhavam funções específicas que exerciam influência sobre todos os aspectos da vida inca. A hierarquia do panteão refletia a importância de cada divindade e seu propósito designado. Muitos desses deuses assumiam a forma de objetos inanimados ou elementos da natureza, como montanhas, rios, plantas, chuva, relâmpagos, sol e lua.

Além disso, os incas prestavam homenagem a divindades representadas por animais, como macacos, onças e condores. Acreditavam que esses deuses compartilhavam padrões de comportamento humano, exibindo emoções antropomórficas como amor, ódio e compaixão.

Ao expandir seu império, os incas integraram cidades vizinhas, resultando na exposição a diversas crenças religiosas que se mesclavam aos seus próprios costumes. Assim como outras mitologias de civilizações antigas, a mitologia inca destacava-se pela ênfase em histórias sobre a criação do mundo e da humanidade, transmitidas oralmente de geração em geração, dado que nenhuma das civilizações andinas desenvolvera um sistema de escrita.

 

Sociedade Inca

A estrutura social dos Incas era altamente hierarquizada. O imperador governava com o auxílio de uma burocracia aristocrática, exercendo autoridade por meio de controles rigorosos e frequentemente repressivos. Embora a tecnologia e a arquitetura inca fossem avançadas, não eram notavelmente originais.

Sistemas de irrigação, palácios, templos e fortificações construídos pelos Incas ainda podem ser observados em toda a Cordilheira dos Andes. A economia era fundamentada na agricultura, com cultivos como milho, batata branca e doce, abóbora, tomate, amendoim, pimenta malagueta, coca, mandioca e algodão.

A criação de porquinhos-da-índia, patos, lhamas, alpacas e cães também era comum. As vestimentas eram confeccionadas com lã de lhama e algodão, enquanto as habitações eram construídas com pedra ou barro. Quase todos os homens eram agricultores, responsáveis por produzir sua própria comida e vestuário.

O Império Inca contava com uma extensa rede de estradas que se estendia por todo o território. Essas vias incluíam duas principais, uma ao longo da costa com cerca de 2.250 milhas (3.600 km) e outra no interior, seguindo os Andes por uma distância comparável, conectadas por muitos túneis curtos e pontes suspensas apoiadas em vinhas.

O sistema era estritamente utilizado para assuntos governamentais e militares, com um serviço de retransmissão organizado transportando mensagens na forma de cordas com nós, chamadas quipu (Quechua khipu), a uma velocidade de 150 milhas (240 km) por dia. Essa rede facilitou significativamente a conquista espanhola do império Inca.

A religião Inca incorporava elementos de animismo e adoração aos deuses da natureza. O panteão era liderado por Inti, o deus do sol, e incluía também Viracocha, um deus criador e herói cultural, e Apu Illapu, o deus da chuva.

Sob o império, a religião Inca era altamente organizada como uma religião estatal, embora, apesar da exigência de adoração ao deus sol e da prestação de serviços pelos povos subjugados, suas religiões nativas fossem toleradas.

Os rituais incas envolviam formas elaboradas de adivinhação e sacrifício de humanos e animais. Contudo, essas práticas religiosas foram suprimidas pela campanha dos conquistadores espanhóis contra a idolatria.

Os descendentes dos Incas são os atuais camponeses dos Andes, que falam quíchua e compõem aproximadamente 45% da população do Peru. Eles combinam práticas agrícolas e pastoris com tecnologia tradicional simples.

Os assentamentos rurais variam entre famílias que vivem no meio de seus campos, comunidades aldeãs com campos fora dos centros habitados e uma combinação desses dois padrões. As cidades, por outro lado, são centros de população mestiça.

As comunidades são fortemente unidas, com casamentos frequentes entre famílias, e uma grande parte do trabalho agrícola é realizado de maneira cooperativa. A religião é uma espécie de catolicismo romano misturado com a hierarquia pagã de espíritos e divindades.

 

A Religião Inca

Os seguidores incas praticavam o politeísmo, dedicando suas adorações a vários deuses simultaneamente. Embora Inti fosse particularmente reverenciado como o deus do sol, outras divindades de destaque incluíam Mama Killa (a deusa da Lua), Illapa (o deus do Trovão) e Pachamama (a deusa da Terra).

A crença inca sustentava que os deuses exerciam influência sobre suas vidas e podiam se comunicar diretamente com eles. Para manter o equilíbrio da natureza sob controle, os incas ofereciam sacrifícios de animais e objetos valiosos como forma de apaziguar essas divindades.

A religião inca destacava a importância de honrar os antepassados. Os incas acreditavam que seus ancestrais mantinham uma ligação especial com os deuses, orientando e influenciando seus destinos, falando em seu nome. Com profundo respeito pelos mais velhos, buscavam assegurar a felicidade póstuma deles.

A ênfase da religião inca na reciprocidade era um princípio fundamental. Acreditavam que ao demonstrar respeito e honra aos deuses, receberiam o favor divino em troca. A vida dos incas girava em torno dessa ideia central de reciprocidade.

A religião Inca teve sua origem nas crenças das civilizações andinas, sendo significativamente influenciada pela cultura Tiwanaku. Esta cultura já existia muito antes do surgimento do Império Inca e dominava a região do Lago Titicaca antes da união sob o domínio inca.

Na religião Inca, Viracocha era venerado como o principal deus, sendo atribuída a ele a criação de tudo. Infelizmente, com a chegada dos conquistadores espanhóis à América do Sul, tanto o Império Inca quanto sua religião chegaram ao fim. No entanto, as crenças e práticas incaicas foram preservadas entre as comunidades indígenas que habitam as montanhas andinas.

Pachacuti adorando o Inti dentro do Coricancha , representação de Martín de Murúa (Domínio Público)

A Criação do Mundo

Na cosmovisão inca, a Trilogia Inca (ou Trilogia Andina) desempenha um papel central na religião. Essa trilogia compreende os céus (Hanan Pacha), onde os deuses residem, a terra ou mundo dos vivos (Kay Pacha), habitado pelos humanos, e o submundo (Uku Pacha) ou mundo dos mortos:

Hanan Pacha, que se traduz como ‘céus’, era simbolizado por um condor, uma ave considerada sagrada pelos Incas. Eles acreditavam que o condor servia como um mensageiro entre o mundo superior (Hanan Pacha) e o mundo terreno (Kay Pacha).

Kay Pacha, traduzido como ‘o mundo da vida’, era representado por um puma, simbolizando força, coragem, liberdade e inteligência.

Ukupacha, que significa ‘submundo’, era simbolizado por uma serpente ou cobra, que habitava nas profundezas do subsolo, em lagos, rios e cavernas. A serpente representava o mundo abaixo (o Ukhu Pacha) e simbolizava sabedoria.

Essa trilogia reflete a compreensão intricada dos Incas sobre a estrutura do universo e sua interconexão com divindades, seres humanos e o mundo natural.

 

Rituais e Cerimônias

A religião Inca envolvia uma variedade de cerimônias e rituais destinados a agradar os deuses e garantir seu apoio. A população se reunia para diversas formas de cerimônias, incluindo sacrifícios, procissões, festividades, danças e apresentações musicais.

Capac Cocha (Sacrifício Humano): A prática ancestral inca conhecida como Capac Cocha envolvia o sacrifício humano. Os incas acreditavam que isso proporcionaria felicidade aos deuses e conquistaria seu favor. O sacrifício de crianças ou prisioneiros de guerra era considerado uma oferta mais desvinculada deste mundo, sendo, portanto, considerado um sacrifício mais significativo.

Festival Inti Raymi: O Festival Inti Raymi é um evento anual que ocorre em Cusco, Peru, combinando aspectos religiosos e culturais. Celebrado em 21 de junho, durante o solstício de inverno, é uma homenagem a Inti, o deus inca do sol. Com danças tradicionais e performances musicais, o festival atrai visitantes devido à sua atmosfera festiva e cultural.

Cápac Raymi: Esta celebração marcava o início das atividades agrícolas durante o solstício de verão. Durante o Cápac Raymi, as pessoas celebravam com trabalhos agrícolas, realizavam serviços religiosos e consideravam certas lhamas como sagradas, expressando a esperança de uma temporada de sucesso que se seguiria.

 

Vida Após a Morte na Religião Inca

Na religião Inca, a ênfase recaía sobre o conceito crucial de vida após a morte e reencarnação. A crença na reencarnação permitia que as almas retornassem a um novo corpo, seja de outra pessoa ou de um animal, após a morte. Muitos seguiam firmemente a convicção de que seus entes queridos eventualmente se reuniriam a eles nesse ciclo, criando uma sensação de pertencimento a uma comunidade ampliada e à unidade familiar.

Com a chegada dos conquistadores espanhóis no início do século XVI, o cristianismo foi difundido pela América do Norte e do Sul, provocando mudanças significativas nas práticas religiosas dos povos nativos das Américas.

Os espanhóis converteram as populações indígenas ao cristianismo de forma rápida e muitas vezes coercitiva, empregando violência e intimidação. Além disso, frequentemente destruíram templos e ídolos reverenciados pelos nativos, proibindo as práticas religiosas tradicionais.

À medida que as populações indígenas se convertiam gradualmente ao cristianismo, muitas delas mantiveram suas práticas e crenças religiosas tradicionais. Hoje, é possível observar essa fusão de cristianismo e práticas espirituais indígenas em grande parte da América do Norte e do Sul.

 

Alguns dos Deuses Mais Importantes da Mitologia Inca

Os incas reverenciavam uma multiplicidade de deuses, uma prática comum em suas crenças, onde o politeísmo desempenhava um papel significativo. Entre as divindades mais importantes estavam:

Inti: Inti, ou Inte, ocupava uma posição central na religião Inca. Acreditava-se que ele, filho de Viracocha, concedia vida e luz. Representado como um disco dourado com raios radiantes ou, às vezes, com características humanas, Inti era venerado como o Deus Sol/Deus do Fogo. A cidade de Cusco dedicava especial reverência a seu culto. O festival Inti Raymi, celebrado anualmente, é uma manifestação importante dessa adoração.

Mama Killa: Mama Killa, deusa integral na religião Inca, era reverenciada como padroeira tanto da realeza quanto do povo comum. Seu templo em Cusco simbolizava a fertilidade da terra e das pessoas, assegurando colheitas prósperas e nascimentos saudáveis.

Viracocha: Viracocha, o deus supremo, era adorado em todo o Império Inca. Representado como um homem idoso com cabelos longos e uma elaborada capa de pele de lhama, era considerado o criador de tudo, trazendo luz e brilho ao mundo. Os Incas aguardavam seu retorno para restaurar paz e prosperidade à Terra.

Pachamama: Pachamama, ou Mãe Terra, era reverenciada como a fonte de toda a vida na Terra. Acreditava-se que ela existia nas montanhas, rios e lagos, uma figura feminina onipotente conectando todos os seres vivos e fornecendo sustento para a sobrevivência.

Mama Cocha: Mama Cocha, a deusa do mar, protegia a vida marinha, promovia a fertilidade e salvaguardava marinheiros e pescadores.

Pachacamac: Pachacamac, venerado pelos habitantes costeiros e das montanhas andinas, era considerado o deus criador, muitas vezes confundido com Viracocha. Sua adoração era necessária devido à frequente ocorrência de terremotos na região.

Illapa: Illapa controlava eventos climáticos, como relâmpagos, chuva e tempestades de granizo. Sacrifícios eram oferecidos para apaziguá-lo e evitar condições adversas.

Kuychi: Kuychi, venerado como o deus que trazia chuva e fertilidade à terra peruana, recebia ofertas, incluindo animais, como símbolo de respeito. Seu festival ocorria em dezembro, época das tempestades no Peru.

Chaska: Chaska, uma canção inca dedicada às estrelas, representava seu poder imenso, recebendo ofertas como gesto de reverência.

Supay: Supay, o deus da morte, segundo a cosmovisão andina, desempenhava um papel essencial na transição da vida após a morte.

Ekkeko: Ekkeko, ou Deus da Riqueza, frequentemente retratado como um homem idoso com uma grande barriga, era procurado para garantir boa fortuna e prosperidade quando agradado com oferendas de riqueza.

Essas divindades desempenhavam papéis distintos na vida e nas crenças dos Incas, refletindo uma rica e complexa cosmovisão religiosa.

 

Animais Sagrados na Religião Inca

Na religião Inca, muitos animais eram objeto de reverência, destacando-se pumas, condores e serpentes, cada um com significados particulares. Essa tradição atribuía significados especiais a várias outras criaturas dentro de seu contexto cultural.

O povo Inca acreditava na divisão do mundo em três reinos, conhecidos como a Trilogia Inca. Os deuses residiam em Hanan Pacha, onde o sol nascia todas as manhãs; os humanos habitavam Kay Pacha, onde a lua se punha todas as noites; e Ukju Pacha representava o que ocorria após a morte, sendo simbolizado por três animais: o Condor, a Ouma e as Cobras, respectivamente.

Condor: O Condor era considerado um mensageiro divino pelas sociedades antigas, frequentemente utilizado em cerimônias e reuniões religiosas. Os Incas acreditavam que ele podia voar mais alto que qualquer outro pássaro, antecipando eventos futuros.

Puma: Os Incas atribuíam ao puma um papel crucial como símbolo religioso, acreditando que ele os guiava em suas jornadas pela vida. Além de proteger lares e famílias, simbolizava o mundo, comumente referido como Kay Pacha.

Cobra: As cobras eram vistas pelos Incas como portadoras de poderes especiais, capazes de facilitar a comunicação com Ukju Pacha, o submundo.

Lhama: As lhamas eram reverenciadas pelos Incas, desempenhando papel fundamental em sua religião. Utilizadas para transporte e produção de carne/lã, muitos acreditavam que eram presentes divinos para auxiliar em rituais religiosos.

Raposa: A raposa era admirada pelos Incas por sua astúcia e sagacidade, atributos associados a Wiracocha, seu deus da criação.

Cachorro: Os Incas consideravam os cães animais sagrados, acreditando que podiam auxiliar a alma em sua jornada para a vida após a morte. Assim, enterravam seus cães ao lado de entes queridos como um ato de respeito, acreditando que afastariam espíritos indesejados das sepulturas.

Urso: O urso era símbolo de força, poder e coragem na crença Inca, frequentemente associado ao renascimento de antigos guerreiros que protegiam seu povo. Sua natureza simbólica era vista como uma força mental sobre a matéria, representando um protetor eficaz.

 

Lugares Sagrados: Colinas e Lagoas

Ao longo da cultura Inca, desenvolveu-se uma tradição de peregrinação significativa. Os centros organizadores do espaço andino tornaram-se símbolos sagrados, locais onde as pessoas se reuniam para prestar culto aos seus deuses, reconhecendo a influência dos representantes dos poderes sobrenaturais na terra. Huiracocha desempenhou um papel fundamental na criação de lagos e lagoas, sendo uma fonte inesgotável de vida.

Os apus, divindades consideradas masculinas, eram objeto de adoração tanto nas menores unidades domésticas quanto nas camadas mais altas da sociedade Inca, abrangendo outros reinos e senhorios.

A chegada dos espanhóis resultou na imposição da religião ocidental, que os nativos incorporaram, mesclando-a com seus costumes ancestrais para torná-la mais palatável aos invasores do ocidente.

Macchu Picchu , Patrimônio Mundial da UNESCO perto de Cusco , no Peru (Domínio Público)

Quem Eram os Deuses Apus?

Os Apus, conhecidos como espíritos das montanhas ou montanhas vivas, eram entidades que, embora não se comunicassem diretamente com os humanos, atendiam aos pedidos feitos por meio de sacrifícios e rituais.

Os Apus em quéchua desempenhavam um papel crucial no mundo espiritual, sendo considerados responsáveis por proporcionar alívio e sustento àqueles que buscavam sua ajuda com fé.

Acreditava-se que as montanhas mais elevadas, ao tocarem os céus, facilitavam a comunicação entre os humanos e os deuses incas. Por meio de rituais e sacrifícios, os Incas conseguiram agradar aos Apus em quéchua, garantindo em troca a proteção para seu povo, terras, gado e colheitas.

 

Cultos aos Deuses Apus

Os cultos dedicados aos deuses incas envolviam fervorosas práticas, como oferendas, rituais, orações e, em ocasiões especiais, sacrifícios humanos conhecidos como Capac Cocha, buscando a proteção divina para os anos seguintes. Essas cerimônias incluíam oferendas de alimentos, danças, folhas de coca e licor de milho.

 

Os Deuses Apus Mais Importantes em Quéchua

As montanhas de maior altitude eram consideradas as mais poderosas e sagradas. Entre esses picos andinos, destacam-se:

No Peru: Ausangate, Chachani, Ampato, Coropuna, Sara Sara.

Deuses Apus de Cusco: Senca, Mama Simona, Wanakawri, Ausangate, Pachatusan.

Deuses Apus de Machu Picchu: Salkantay, Piscachani, Yananti, Putucusi, Verônica.

Deuses Apus de Choquequirao: Qorihuayrachina, Padreyoc, Choquetacarpo.

Na Argentina e no Chile: Esmeralda, Licancabur, Quehuar, Chuscha (El Toro, 6380 metros acima do nível do mar) e Aconcágua.

 

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