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Exu – Orixá da Comunicação e da Proteção

Exu, o orixá mensageiro

Exu é um dos mais conhecidos e controversos orixás do panteão africano. Sua imagem é comumente associada ao diabo cristão e ao mal, mas na verdade, essa concepção está longe de refletir a complexidade e diversidade das tradições africanas. Para compreender melhor as origens e a mitologia de Exu, é preciso mergulhar no contexto histórico e cultural das sociedades africanas que cultuavam esse orixá.

 

Origens

Exu é um orixá muito antigo, que tem suas raízes nas religiões africanas pré-coloniais. Embora existam diferenças significativas nas tradições de diferentes regiões e grupos étnicos africanos, a maioria dos estudiosos concorda que ele é um dos orixás mais antigos e venerados. Na Nigéria, por exemplo, ele é cultuado pelos iorubás, que o chamam de Esu, Eshu ou Elegbara. Em outras regiões da África, ele é conhecido por outros nomes, como Legba, em Benin, e Exu no Brasil.

Ele é um orixá complexo e multifacetado, que desempenha diversos papéis nas tradições africanas e é considerado um mensageiro divino, um intermediário entre os seres humanos e os outros orixás. Ele é também um guardião dos caminhos e das encruzilhadas, um protetor dos viajantes e um senhor das comunicações e das transformações. No entanto, ele é também associado ao caos, à trapaça e ao engano, e muitas vezes descrito como um orixá malicioso e imprevisível, que gosta de brincar com os mortais e testar sua honestidade e integridade.

 

Mitos e Lendas

A mitologia do orixá é rica e variada, refletindo as diferentes tradições culturais e religiosas que o cultuam. Uma das histórias mais conhecidas sobre Exu é a que o associa a criação do mundo. De acordo com essa lenda, Exu teria sido o responsável por abrir caminho para que os outros orixás pudessem criar o mundo e os seres humanos. Ele teria, portanto, um papel fundamental na ordem cósmica e na manutenção do equilíbrio entre os mundos espiritual e material.

Outra história importante sobre Exu é a que o associa a Oyá, a deusa do rio Niger. De acordo com essa lenda, Exu teria se apaixonado por Oyá e tentado seduzi-la de várias maneiras. Oyá, no entanto, resistiu às investidas de Exu e acabou se apaixonando por Xangô, outro orixá importante. Exu, então, teria se enfurecido e iniciado uma guerra contra Xangô, que acabou sendo vitorioso. Essa lenda ilustra a complexa relação de amor e ódio que existe entre Exu e os outros orixás, assim como sua natureza imprevisível e volátil.

Representação africana do orixá Exu no Museu de Arte de São Paulo (Imagem: Wikimedia Commons CC BY-SA 4.0)

Características e culto a Exu

Nos rituais de culto dedicados a Exu, são utilizados elementos e símbolos que representam suas características e domínios. Alguns desses elementos se destacam, tais como:

Ogó: um bastão de madeira com formato fálico, que é um dos principais símbolos.

Terra e fogo: esses elementos estão intrinsecamente ligados ao orixá, representando seus domínios relacionados ao sexo, à magia, à união, ao poder e à transformação.

Cores: as cores vermelho e preto.

Cabritos e galos: são os animais frequentemente associados a Exu.

Encruzilhada: desempenha um papel de extrema importância nos rituais dedicados ao orixá, simbolizando a fronteira entre o mundo humano e o mundo divino.

Tridente: um dos símbolos emblemáticos de Exu, representando sua função como mediador entre os orixás e os seres humanos.

Caveira: na Umbanda, Exu se manifesta por meio de avatares, como Exu Caveira, que é uma das entidades mais conhecidas.

Além desses elementos e símbolos, é fundamental ressaltar que Exu desempenha um papel de extrema importância nas religiões de matrizes africanas, como o Candomblé e a Umbanda. Os fiéis geralmente fazem oferendas a ele em locais de interseção, como cruzamentos que representam fronteiras.

A ideia subjacente é que o orixá atua como uma ponte entre os dois mundos, o divino e o humano. Exu é amplamente considerado um protetor fiel daqueles que o cultuam e são gratos por sua proteção. Além disso, ele também oferece assistência aos espíritos desencarnados em seu processo evolutivo até sua próxima encarnação.

 

Resumindo

Exu é um orixá complexo e multifacetado, que desempenha diversos papéis nas tradições africanas. Embora sua imagem seja comumente associada ao mal e ao diabo cristão, essa concepção está longe de refletir a complexidade e a diversidade das tradições africanas. Exu é um orixá venerado e respeitado, que desempenha um papel fundamental na ordem cósmica e na manutenção do equilíbrio entre os mundos espiritual e material.

A compreensão das origens e da mitologia de Exu é importante para o entendimento da cultura e da religiosidade africana, que têm sido frequentemente estigmatizadas e marginalizadas pela influência do colonialismo e do racismo. É importante reconhecer a complexidade e a diversidade das tradições africanas, assim como a riqueza e a profundidade de suas mitologias e cosmologias.

 

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Referências:

Abimbola, Wande. Ifa: An Exposition of Ifa Literary Corpus. Oxford: Oxford University Press, 1976.

Bastide, Roger. The African Religions of Brazil: Toward a Sociology of the Interpenetration of Civilizations. Translated by Helen Sebba. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1978.

https://antropologia.fflch.usp.br/en/node/949

 

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