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7 Jornadas ao Submundo na Mitologia Grega e Romana

7 jornadas ao submundo na mitologia grega e romana

Mitologia Grega e Romana: Narrativas de Vida, Morte e Redenção no Reino do Submundo.

Na mitologia grega e romana, o submundo era o lugar onde as almas dos mortos residiam. Segundo a crença, não havia exceções para essa jornada após a morte, uma vez que Thanatos, a divindade da morte, não permitia que os mortais retornassem ao reino dos vivos. No entanto, existem relatos mitológicos de alguns casos em que um mortal conseguiu adentrar o submundo e retornar, uma jornada conhecida como katabasis.

 

1 – Teseu

Teseu, lendário fundador de Atenas, era amigo próximo de Pirithous, rei dos lápitas. Após perderem suas esposas, eles fizeram um pacto de ajudarem um ao outro a se casarem com as filhas de Zeus. Teseu escolheu Helena de Esparta e, com a ajuda de seu amigo, conseguiu desposá-la.

Pirithous, no entanto, tomou uma decisão mais arriscada e decidiu buscar Perséfone, a rainha do submundo. Teseu sabia que essa empreitada era impossível, mas não conseguiu convencer seu amigo a desistir.

Infelizmente, a busca deles pelo submundo terminou em fracasso. Segundo diferentes versões do mito, quando eles se sentaram para descansar, foram magicamente algemados ou enfeitiçados, impedindo-os de prosseguir. Ambos ficaram presos no submundo.

Posteriormente, Héracles tentou resgatá-los, mas só conseguiu salvar Teseu. A ofensa de Pirithous era aparentemente grave demais para permitir seu retorno ao mundo dos vivos.

Teseu e Pirithous, 1806, por Angelique Mongez (Domínio Público)

2 – Er

O mito de Er é narrado no final da obra “A República” de Platão. Er era um guerreiro que morreu em batalha, mas não bebeu das águas do rio Lete, que causam o esquecimento aos mortos. Por isso, ele conseguiu lembrar-se do que aconteceu antes de sua reencarnação.

Em sua jornada, as almas boas eram recompensadas com uma vida após a morte em um lugar celestial, com paisagens maravilhosas. Já as almas más eram enviadas para um lugar sombrio, onde sofriam punições dez vezes piores pelos males que cometeram em vida. Após quatro dias, as almas eram conduzidas ao Fuso da Necessidade, recebiam um número por sorteio e formavam uma fila para escolher sua próxima vida.

Uma ideia interessante presente nesse mito é que aqueles que foram recompensados na vida após a morte escolhiam imprudentemente vidas em que exerceriam poder, mas também enfrentariam infortúnios. Já aqueles que foram punidos tendiam a valorizar uma vida mais simples e presumivelmente mais feliz.

Além disso, as almas dos animais buscavam experienciar vidas humanas, enquanto os humanos que haviam experimentado as angústias da vida humana buscavam a simplicidade da vida animal. Segundo Er, todos buscavam aquilo que não tinham. Por fim, as almas eram levadas ao rio Lete, onde esqueciam suas vidas passadas e eram reencarnadas.

Platão argumentava que somente através do estudo da filosofia e da compreensão das Formas do Bem, alguém poderia fazer escolhas informadas repetidamente, assegurando que optasse por vidas boas e felizes.

Ananke a personificação da Necessidade, acima do Moirai, o Destino. Ilustração moderna de uma passagem no Mito de Er de Platão. (Domínio Público)

3 – Hipólito

Embora existam várias versões da história de Hipólito, a narrativa principal é a seguinte.

Hipólito, filho de Teseu, era devoto de Ártemis e recusava-se a honrar Afrodite. Como punição, Afrodite amaldiçoou a madrasta de Hipólito, Fedra, fazendo com que ela se apaixonasse por ele. Hipólito rejeitou seus avanços, o que levou Fedra a cometer suicídio e deixar uma carta acusando-o de tê-la estuprado.

Teseu, então, pediu a seu pai, Poseidon, que punisse Hipólito pelo suposto crime. O deus fez com que os cavalos da carruagem de Hipólito enlouquecessem, virando a carruagem e arrastando-o até a morte.

Segundo a tragédia “Hipólito”, de Eurípides, Ártemis finalmente revelou a verdade a Teseu e garantiu que a memória de Hipólito nunca fosse esquecida. No entanto, segundo Pausânias, após sua morte, Hipólito foi transformado na constelação do Cocheiro (Auriga) ou foi ressuscitado por Asclépio, o deus da medicina, que, por sua vez, foi punido por Zeus por esse ato.

A morte de Hipólito por Lawrence Alma-Tadema (1836–1912). (Domínio Público)

4 – Castor e Pólux

Castor e Pollux, os lendários heróis gêmeos espartanos conhecidos como Dióscuros, eram filhos de Leda. Castor era filho do rei espartano Tyndareus, enquanto Pollux era filho de Zeus. Juntos, eles embarcaram em diversas aventuras, incluindo a famosa expedição dos argonautas. No entanto, focaremos apenas na história de sua morte.

Tudo começou quando os Dióscuros raptaram Phoebe e Hilaeira, que eram noivas de seus primos, Idas e Lycaeus. Mais tarde, durante uma incursão conjunta na Arcádia, quando os Dióscuros e seus primos se preparavam para dividir o saque – um rebanho de gado – Idas e Lycaeus enganaram os gêmeos e fugiram com todo o rebanho.

Quando os Dióscuros tentaram recuperar o rebanho à vista de seus primos, Idas e Lycaeus os emboscaram. Durante o confronto que se seguiu, Idas esfaqueou Castor, Pollux matou Lycaeus, e Zeus atingiu Idas com seu raio para proteger seu filho, Pollux. Em seguida, Zeus pediu a Pollux que escolhesse entre manter sua imortalidade, uma vez que era filho de um deus, ou compartilhá-la com seu irmão moribundo.

Pollux escolheu salvar Castor, e assim os irmãos puderam passar “metade do tempo debaixo da terra e metade do tempo nas mansões douradas do céu” (Píndaro, Ode Nemeana 10). Em outra versão do mito, os Dióscuros foram transformados na constelação de Gêmeos.

“Rapto das Filhas de Leucipo”, de Rubens. (Domínio Público)

5 – Sêmele

Sêmele, filha de Cadmo e Harmonia, engravidou de Zeus. Movida pelo ciúme, Hera fez com que Sêmele duvidasse que Zeus fosse seu amante. Então, Sêmele pediu a Zeus que jurasse pelos rios do submundo que concederia qualquer coisa que ela pedisse.

Zeus fez o juramento e Sêmele pediu para ver sua verdadeira forma. Apesar dos apelos de Zeus para que ela mudasse de ideia, Sêmele insistiu. Sem outra opção, Zeus revelou sua forma divina, e Sêmele, incapaz de suportar a visão, foi consumida pelas chamas. No último momento, Zeus salvou o feto de Sêmele e o costurou em sua própria coxa.

A divindade que nasceu da coxa de Zeus foi Dionísio, o deus do vinho e da festividade. Quando cresceu, ele desceu ao submundo e resgatou sua mãe, trazendo-a para viver no Olimpo entre os deuses.

Grávida de Dionísio, Sêmele morre depois de exigir ver Zeus em toda a sua glória (Domínio Público)

6 – Alceste

Alceste, princesa de Iolcus, tornou-se esposa de Admeto, o governante de um reino na Tessália. Em um sacrifício realizado após o casamento, Admeto negligenciou fazer o devido sacrifício à deusa Ártemis, o que causou a ira dela. Quando Admeto se retirou para seus aposentos, encontrou-os preenchidos por cobras, um presságio de sua iminente morte.

Apolo, que tinha afinidade por Admeto, convenceu as Moiras a aceitarem a vida de outra pessoa em troca da de Admeto. Embora seus pais não quisessem assumir o lugar de Admeto no submundo, a jovem e bela Alceste se ofereceu para fazê-lo.

De acordo com a Biblioteca de Apolodoro, no final, Alceste retornou à vida, possivelmente com a ajuda de Hércules, que a libertou em reconhecimento à hospitalidade oferecida por Admeto, ou por vontade de Perséfone.

A Morte de Alceste de Angelica Kauffmann. (Domínio Público)

7 – Adônis

Na trágica história de Adônis, o rei Cíniras de Chipre foi enganado e acabou dormindo com sua própria filha, Mirra. Quando ele descobriu a verdade, tentou matá-la. Desesperada, Mirra implorou aos deuses por ajuda, e eles a transformaram em uma árvore de mirra, da qual nasceu o belo Adônis.

Adônis era tão encantador que Afrodite e Perséfone disputaram sua companhia, mesmo quando ele ainda era um bebê. Por fim, elas concordaram que Adônis passaria dois terços do ano com Afrodite e o terço restante no submundo com Perséfone.

A morte de Adonis (1684–1686) by Luca Giordano. (Domínio Público)

 

Resumindo

Os mitos gregos e romanos oferecem um rico panorama de histórias fascinantes sobre heróis, deuses e mortais que exploram os temas da vida, morte, sacrifício e redenção. Os exemplos de Castor e Pólux, Sêmele, Alceste e Adônis destacam a complexidade dessas narrativas, onde a mortalidade e a imortalidade se entrelaçam, e os destinos dos personagens são moldados por ações divinas e escolhas pessoais.

Essas histórias mitológicas continuam a ser transmitidas e estudadas até os dias de hoje, proporcionando uma compreensão mais profunda da condição humana, nossos anseios, desafios e a busca por significado e transcendência. A mitologia grega e romana permanece como um legado cultural duradouro que inspira e cativa, lembrando-nos da rica imaginação e sabedoria dos povos antigos.

 

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